Com Anderson Silva pronto para enfrentar Chris Weidman no card de Jake Paul vs. Gervonta Davis, em Miami — seis rounds, 205 libras, ao vivo na Netflix — o mundo das lutas ganha uma nova página em uma rivalidade que a maioria dos fãs achava encerrada desde 2013.
Mas também destaca uma tendência que tem remodelado o calendário de combates nos últimos anos: grandes nomes do MMA testando suas habilidades no ringue de boxe.
Alguns buscaram espetáculo, outros, uma nova chama competitiva — e alguns poucos vêm construindo silenciosamente carreiras legítimas nos ringues.
A seguir, um olhar sobre seis ex-estrelas notáveis do UFC que trocaram o Octógono pelas luvas de boxe — o que trouxeram consigo, como se saíram e para onde podem ir a seguir.
Perry surgiu no UFC com agressividade bruta e poder de nocaute, vencendo seus nove primeiros oponentes no MMA antes de estagnar contra adversários de nível mais alto.
Quando seu capítulo no UFC terminou em 2021, ele não desacelerou — apenas mudou de rota.
Ele mergulhou primeiro no bare-knuckle (boxe sem luvas) e encontrou seu espaço rapidamente, acumulando vitórias sobre nomes grandes como Michael “Venom” Page, Luke Rockhold e Eddie Alvarez.
O timing, o queixo e a mentalidade que às vezes o prejudicavam no MMA se tornaram virtudes nas brigas de telefone público do BKFC.
Perry teve uma luta de boxe tradicional lá atrás — uma derrota por nocaute para Kenneth McNeil —, depois voltou em julho de 2024 para enfrentar Jake Paul.
A diferença de técnica foi clara: Paul controlou com o jab, escolheu seus golpes e nocauteou Perry no sexto round.
De volta ao bare-knuckle, onde seu estilo se traduz melhor.
Recentemente nocauteou o veterano do UFC Jeremy Stephens e continua sendo uma das maiores atrações do BKFC.
O sucesso no crossover depende de escolher o código certo.
O DNA explosivo de Perry é perfeito para o caos de curta distância do bare-knuckle; já no boxe, com rounds mais longos e foco no jab, suas vantagens se diluem.
Ex-campeão dos meio-médios do UFC, Woodley conquistou o cinturão com um nocaute no primeiro round sobre Robbie Lawler em 2016 e o manteve por quase três anos.
Quando a fase no UFC esfriou (quatro derrotas seguidas), ele entrou na era dos influenciadores.
Oito rounds de xadrez hesitante.
Woodley ameaçava com o poder de nocaute, mas lutou pouco, hesitou demais.
Paul venceu por decisão dividida.
Com pouco tempo de preparação, Woodley ganhou uma revanche — e desta vez o soco-meme aconteceu.
O overhand de direita de Paul no sexto round apagou as luzes, um dos momentos virais que consolidaram Jake como estrela do crossover.
Quatro anos depois, Woodley não voltou a lutar no boxe.
Aos 43, parece ter encerrado sua trajetória competitiva — adequado para um campeão que brilhou com luvas de 4 onças.
Pedigree de campeão não se traduz automaticamente para o boxe sem volume e ritmo.
Woodley dependia de contragolpes e baixa produção — o que o deixou atrás nos pontos, até um erro o deixar no chão.
O herói de Stockton — fôlego infinito, fundamentos sólidos de boxe e queixo lendário.
Dividiu duas lutas épicas com Conor McGregor e se tornou ícone cultural.
Mesmo com inatividade no fim da passagem pelo UFC, o aura permaneceu.
Estreou contra Jake Paul (agosto de 2023).
Diaz foi derrubado, teve bons momentos nos rounds do meio, mas perdeu por larga margem nas pontuações.
Um ano depois, reacendeu a rivalidade com Jorge Masvidal — desta vez com luvas — e venceu por decisão majoritária, empatando o retrospecto entre eles (1–1 entre MMA e boxe).
Esperando.
Uma trilogia com Masvidal parece inevitável; Diaz continua sendo um dos poucos nomes que podem liderar eventos sem cinturão ou ranking.
O volume esquisito e o jogo interno de Diaz dificultam lutas equilibradas no boxe médio, mas contra adversários maiores e mais jovens, ele tende a ficar atrás nos cartões.
Um dia o maestro do caos do UFC, com 12 vitórias seguidas e um cinturão interino.
A derrota para Justin Gaethje (2020) iniciou uma queda de oito lutas.
Precisava de um reinício.
Evento da Misfits, agosto de 2025, contra Salt Papi (influenciador com boa técnica).
Ferguson avançou, soltou as mãos e venceu por nocaute técnico no terceiro round, sua primeira vitória em seis anos.
Aos 41, aberto a mais lutas de crossover — especialmente em eventos de entretenimento, com menos rounds e adversários escolhidos.
Mesmo no fim de carreira, o estilo criativo e a resistência de Ferguson funcionam bem em combates curtos, especialmente quando o abismo técnico é pequeno.
Tirou o cinturão dos médios do UFC de Chris Weidman com domínio técnico, mas nunca se recuperou do nocaute sofrido contra Michael Bisping na revanche.
Enfrentou Mike Perry (abril de 2023) e sofreu muito dano; luta encerrada no segundo round.
O ritmo e o espaço do BKFC não o favoreceram.
Enfrentou Darren Till (2025); o inglês mostrou melhor tempo e técnica, nocauteando brutalmente no terceiro round.
Provavelmente se afastando do circuito de lutas híbridas; suas melhores armas — chutes, distância e grappling — não existem no ringue.
Técnica de elite no MMA não garante sucesso no boxe, principalmente quando suas armas principais ficam fora das regras.
Rockhold tinha ferramentas excepcionais, mas o boxe não recompensa o mesmo conjunto de habilidades.

Chegou a ficar 18 lutas invicto, cotado para título no UFC, até perder para Tyron Woodley (2018).
Depois, perdeu quatro das cinco seguintes e saiu do UFC em 2022.
Fez uma exibição em Dubai (junho de 2024), venceu por nocaute rápido, depois assinou com a Misfits.
O esperado duelo com Tommy Fury caiu, então ele enfrentou outros nomes:
nocauteou Anthony Taylor,
venceu Darren Stewart por pontos,
e, em agosto de 2025, nocauteou Luke Rockhold no 3º round com autoridade.
Provavelmente o crossover mais bem-sucedido do ano, com controle de distância e precisão que o mantêm em alta.
Um novo combate ainda em 2025 não surpreenderia.
Alguns strikers do MMA foram feitos para o ritmo do boxe.
A postura, paciência e o direto de direita de Till parecem até mais limpos com luvas de 10–12 onças do que no fim da passagem pelo Octógono.
Seis rounds, 205 libras, abrindo o card principal sob Jake Paul vs. Gervonta Davis, em Miami, ao vivo na Netflix.
O nocaute de Weidman em julho de 2013 encerrou o reinado de 2.457 dias de Anderson Silva.
A revanche, em dezembro, terminou com a trágica fratura da perna de Silva num chute bloqueado.
2–0 para Weidman, mas inacabado no coração dos fãs pelo modo como terminou.
Silva tem 3 vitórias e 2 derrotas no boxe profissional, incluindo o triunfo sobre Julio César Chávez Jr. e uma derrota competitiva para Jake Paul (2022).
Weidman fará sua estreia no boxe profissional.
Silva promete um espetáculo; Weidman se autoproclama o “matador da aranha original” e diz que continuará invicto no boxe.
No ringue, seis rounds valorizam momentos claros e golpes limpos.
Será o timing e engano de Silva contra a disciplina e pressão direta de Weidman.
Não espere 2013 — mas espere algo honesto, competitivo e emocionalmente forte.
O código certo para suas ferramentas: bare-knuckle destaca resistência e briga curta; o boxe recompensa jab, tempo e saídas.
O oponente certo: até lendas precisam de boas combinações de idade, tamanho e ritmo.
O número certo de rounds: 3 a 6 rounds mostram o valor do nome sem exigir o fôlego de 12.
As expectativas certas: não é reescrever a história, é adicionar um novo parágrafo digno.
Anderson Silva: vitória sobre Chávez Jr., nocaute em Tito Ortiz e luta equilibrada com Jake Paul — prova de conceito.
Francis Ngannou: levou Tyson Fury ao limite e enfrentou Anthony Joshua; o poder dos pesados viaja bem.
Jorge Masvidal: eventos híbridos, ainda cercado pela energia da trilogia com Diaz.
Vitor Belfort: nocauteou um Evander Holyfield de 59 anos em exibição — lembrando que nem todo evento é igual, e nem toda luta envelhece bem.
Porque as histórias ainda importam.
Porque ver nomes familiares em regras novas renova a curiosidade.
Porque alguns lutadores, livres dos chutes e quedas, revelam o timing e a técnica que o MMA escondia.
E porque noites como Silva–Weidman (edição boxe) permitem reviver o sentimento, sem precisar reabrir a ferida.
No dia 14 de novembro em Miami, dois homens que definiram uma década para os fãs de luta voltarão a tocar luvas.
Não para substituir o passado — mas para ficar ao lado dele e acrescentar mais um quadro à história.